Analisar os processos coletivos de emancipação social neste contexto de investidas contra a democracia e ataque aos direitos e à vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais na América Latina, bem como refletir sobre os desafios da atuação dos movimentos sociais no continente, os limites e potencialidades na construção de novas institucionalidades e articulações em redes. Estes são os objetivos centrais do Seminário Internacional Movimentos Sociais e Educação Popular na América Latina, iniciado na tarde desta sexta-feira (12), no auditório da CONTAG, em Brasília, com a presença de mais de 200 pessoas, entre educandos e educandas da VI Turma do Curso Nacional da Escola Nacional de Formação da CONTAG (ENFOC), dirigentes e assessores sindicais de todos os estados, margaridas e representantes de organizações internacionais que atuam com educação popular e de centrais sindicais.
Este seminário integra as atividades em celebração aos 10 anos da ENFOC, fundada em 14 de agosto de 2006, como um lugar de transformAÇÃO social.
O seminário foi iniciado pulsando a militância e a emoção em todos os(as) participantes, com a belíssima mística feita pela dupla João Bello e Susi Mont Serrat. “Semear os sonhos e repartir o pão... semear o sonho é coragem e fé... Por mais liberdade, por mais democracia, por mais amizade e por um Brasil melhor!”, foi assim que a dupla iniciou a mensagem, e trouxe algumas das expectativas sobre tudo a ser vivido nos próximos dias durante o seminário e nas celebrações do aniversário da Escola.
Todos(as) os(as) participantes fizeram uma forte saudação à ENFOC, a sua importância e aos seus 10 anos de atuação, com uma forte salva de palmas e com gritos de “10 anos da ENFOC: eu faço parte!”
Antes da abertura política, as margaridas também foram homenageadas e o vídeo oficial da Marcha das Margaridas foi transmitido. Foi um momento forte, de relembrar a luta das margaridas, em especial de Margaridas Alves, que hoje, 12 agosto, é a data do seu assassinato ocorrido há 33 anos, e ainda completa um ano da última edição da Marcha das Margaridas.
A abertura política do Seminário, realizada em um espaço que lembrava uma praça, a Praça Margarida Alves, contou com falas afirmativas, de celebração e, ao mesmo tempo, com muita força do presidente da CONTAG, Alberto Broch, do secretário de Formação e Organização Sindical, Juraci Souto, da secretária de Mulheres, Alessandra Lunas, da secretária de Finanças da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (CONTAR), Divina Rosa, da vice-presidente da CUT, Carmen Foro, representante da CTB, Vânia Marques, e da representante do Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL), Rosy Zúniga.
O presidente Alberto Broch destacou a importância de um seminário como esse, de integração das nações latinas para discutir o papel dos movimentos sociais e da educação popular. “Esse Seminário acontece no marco dos 10 anos da Escola, mas também em um cenário político crítico em vários países da América Latina. A crise não acabou e trouxe um saldo de retrocessos para a classe trabalhadora.” Broch reforçou a necessidade de valorizar o nosso MSTTR, para que ele seja cada vez mais forte, atuante e combativo. “Com certeza a nossa Escola vai nos ensinar como fazer isso”, parabenizou o presidente.
O secretário de Formação e Organização Sindical da CONTAG, Juraci Souto, que coordena o seminário, fez uma saudação a todos os educandos e educandas, aos secretários e secretárias de Formação das Federações que vieram prestigiar esse importante momento, aos(às) dirigentes, assessores e funcionários das entidades do MSTTR e das centrais sindicais, e convidados(as) internacionais. “A nossa Escola, durante esses 10 anos, tem demonstrado muito mais do que fazer formação política e sindical. Tem também se preocupado com as questões voltadas ao bem-estar do nosso povo. E o retrocesso vivido no nosso País, com a retomada de um governo de direita é uma das preocupações abordadas pela Escola”, destacou.
Por conta da importância desse debate com a abrangência na representação de países da América Latina, o dirigente mostrou-se com grandes expectativas. “Como a Educação Popular pode ajudar as pessoas a se situarem quanto a esse cenário? Estamos com boas expectativas para fazer esse debate. Que possamos tirar dúvidas e tenhamos uma grande participação, e que seja um grande momento de reflexão e de retirada de ações afirmativas não só no Brasil como nos vários países da América Latina.”
A secretária de Mulheres da CONTAG, Alessandra Lunas, já iniciou a sua fala bastante emocionada. “Passa um filme nas nossas cabeças... hoje, exatamente a 1 ano atrás, estávamos na Marcha das Margaridas, voltando das ruas, da nossa marcha. Estar hoje aqui, celebrando os 10 anos da ENFOC, que foi resultado de uma demanda levantada pelas mulheres, uma cobrança de haver investimento na formação política das mulheres, é uma conquista das companheiras. E ela nasceu no dia 14 de agosto, justamente na semana que rememoramos a morte de Margarida Alves. Está fazendo 1 ano também a morte de três companheiras, que faleceram durante a Marcha das Margaridas. Companheiras que morreram na luta!” Alessandra se emocionou ao lembrar desse momento triste, mas forte de resistência das mulheres contra o patriarcado, em busca de autonomia, de participação política e de igualdade. “Nos últimos dias também alcançamos outra vitória: depois de 33 anos, foi reconhecido que o assassinato de Margarida Alves foi um crime da ditadura. Uma justiça! Quanto à formação político-sindical, o que temos pela frente é um desafio grande, pensar para onde vamos e o que a formação pode fazer para avançarmos na luta. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!”, finalizou.
A representante do CEAAL, Rosy Zúniga, disse estar muito feliz e honrada por estar participando desse seminário. “A experiência da ENFOC tem que transcender a outros países. Como movimento de educação popular devemos encontrar as pontes para que isso aconteça. O seminário também será um bom momento para compartilharmos sonhos.”
O professor fez um resgate dos acontecimentos políticos dos países latino-americanos, as forças políticas, autonomia, e como estão os posicionamentos frente ao poder e ao mercado, e como acontecem as lutas contra o poder e o mercado nos países latinos. Ele também trouxe um resgate sobre a época do colonialismo, movimentos camponeses, na luta pela reforma agrária e contra as ditaduras.
Salvador citou alguns exemplos de organizações que fizeram fortes lutas pela autonomia, pela organização dos agricultores e pela democracia. “Em alguns casos, o Estado promoveu essa autonomia, em outros foi um obstáculo, enfraqueceu as comunidades camponesas e indígenas. Uma realidade que existe no campo brasileiro.” Ele destacou que em alguns países existe o conceito do bem-viver, como nas Constituições da Bolívia e do Equador. E, em outros, de que é possível um desenvolvimento autônomo, que aparece forte em alguns países. “Como seria o modelo político das comunidades? Esse debate entra e ganha força em alguns países. As lutas de classe ganham força na década de 90. Como também o caminho do nacionalismo, desenvolvimentista, regimes militares e correntes políticas conservadoras. Uma reação a essas formas foi bastante debatida, como a autonomia, por exemplo. Todos nós, dentro da formação, somos sujeitos políticos, e é importante fazermos parte. A ideia de autonomia articulada com a ideia de construir um contra poder, que seja forte mesmo que as escolhas das organizações sociais seja de participar e fazer parte das instituições políticas.”
Após a exposição do professor, os(as) participantes puderam se expressar e fazer questionamentos sobre a realidade brasileira e também a dos países com representantes neste seminário. Focaram também nos golpes vividos no Brasil e em outros países como a Venezuela, por exemplo. A situação da segurança alimentar e nutricional, a importância de fortalecer a agricultura familiar e se esse quadro também é vivido em outros países. O movimento nos países de um processo de desconstrução dos partidos políticos e uma possível de retomada de várias negociações internacionais que já estavam vencidas no Brasil, como a ALCA, por exemplo. Outro ponto abordado foi o reflexo do que significa o empoderamento dos movimentos sociais e sindicais frente a esse modelo conservador, com cenário adverso e capitalista.
Ainda no sábado, às 19 horas, haverá a celebração dos 10 anos da ENFOC. Esse promete ser um momento forte, de reafirmação da Escola como um lugar de transformAÇÃO política e de fazer de muitas mãos. Os participantes do Seminário poderão participar do momento de projeção dos sonhos para daqui dez anos, em 2026.
Domingo (14), último dia do seminário e dia do aniversário da Escola, haverá pela manhã trabalho em grupos para aprofundar o debate sobre a contribuição da Educação Popular a partir das experiências de atuação das organizações sociais e sindicais, bem como discutir propostas para articular das organizações e movimentos na área da formação política e educação popular. À tarde, a partir das 14h, haverá a socialização do trabalho em grupos, encaminhamentos finais e o encerramento.
O Seminário está sendo transmitido nos sites da CONTAG (www.contag.org.br) e da ENFOC (www.enfoc.org.br).
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