Inclusão, representatividade, diversidade e respeito. Para cerca de 3 milhões de brasileiros e brasileiras, o simples ato de viver é um desafio e, principalmente, de luta e resistência. Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, queer, intersexuais, assexuais e mais, ou LGBTQIA+, uma sigla de reconhecimento e que, acima de tudo, reúne o orgulho de ser quem é.
Rodrigo Alves Sá é cearense, secretário de Terceira Idade do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Quixeramobim, agricultor familiar e um homem trans do semiárido.
“Por volta dos meus seis ou sete anos eu já sentia vontade de ter outras vivências que as minhas primas e amigas tinham enquanto crianças do sexo feminino. Elas gostavam de usar batom, brinco, maquiagem. Eu não tinha essa vontade, eu gostava mesmo era de brincar de carrinho, peão e bila, de jogar futebol e correr a cavalo.”
Ao longo de seu crescimento, Rodrigo foi vivendo e convivendo com essa manifestação de querer agir e ter gostos diferentes. O menino que estava se descobrindo não via um espaço seguro para se conhecer e, por vezes, se sentiu a margem.
“Aos 14 anos eu tive a primeira conversa sobre gostar de alguém e reconheci o que era tudo isso que, por tanto tempo, se manifestou dentro de mim sem eu entender. Em torno dos seus 21 anos eu entendi que eu nasci com o sexo feminino, mas eu sou um homem trans. Eu sou o Rodrigo.”
O agricultor familiar compartilhou que o público LGBTQIA+ não enfrenta só o medo, o preconceito, a exclusão, o menosprezo e o julgamento, mas principalmente uma dor interna.
“A gente se pergunta se somos tudo aquilo que as pessoas estão dizendo. Todas as nossas qualidades se tornam invisíveis diante do preconceito e do julgamento. E a gente tem que também procurar ser a primeira pessoa que acolhe a si mesmo.”
A exclusão, o julgamento, a falta de apoio e tampouco os julgamentos foram capazes de desmotivar o rapaz. Hoje, Rodrigo Alves Sá tem 36 anos, é casado há dois anos e tem muita vontade de viver sendo o homem que é.
“Então, esse processo foi e ainda está sendo de descobertas, empoderamento e muita afirmação da vontade de viver sendo quem eu sou, não quem o mundo, na compreensão da sociedade preconceituosa, homofóbica, excludente, julgadora, quer que eu seja. Em 2022, eu me casei com minha companheira e toda minha família foi. Mas, até chegar a esse momento, não foi fácil.”
O dirigente compartilhou que o movimento sindical tem feito processos formativos e mediações de diálogos. “Estamos tendo avanços, embora que ainda necessite de uma atuação maior e de conhecimento para nos desprender dessas correntes que nos aprisionam e que, muitas vezes, ceifam vidas. Que bom que eu não fui uma dessas vidas. A gente fica com medo, mas nos fortalecemos. Assim como todas as outras pessoas têm direito de viver, nós como homens trans, mulheres trans, gays e lésbicas também temos o direito de viver.”
MOVIMENTO SINDICAL
Como forma de celebrar a diversidade e estimular a inclusão de todos os sujeitos, a CONTAG tem trabalhado na construção do Grupo de Trabalho da Diversidade, que conta também com a participação de representantes de Federações e de Sindicatos de todo o Brasil.
A secretária de Políticas Sociais, Edjane Rodrigues, afirma que “assim como a agricultura familiar é diversa, os sujeitos que estão no meio rural também são uma amplitude de diversidades. E, com isso, eles têm as suas especificidades e pautas específicas, as pessoas LGBTQIA+ ainda sofrem com preconceito e exclusão. Então, nessa perspectiva, precisamos de políticas públicas equânime e que dialoguem com essas realidades vivenciadas e sentidas, pois elas são fundamentais para permaneça desses sujeitos no campo. Só realmente implementando políticas que transformem a vida dos sujeitos e que possam fazer com que eles se empoderem, que vamos conseguir prover o desenvolvimento no meio rural.”
Para a secretária de Jovens Trabalhadores(as) Rurais, Mônica Bufon, a celebração da data é orgulho pela inclusão, visibilidade e avanços que os sujeitos LGBTQIA+ do campo, da floresta e das águas vem tendo.
“A gente celebra essa data com muito orgulho, principalmente porque nós agricultores e agricultoras familiares muitas vezes ainda somos prejudicados por toda a cultura que nós vivenciamos no meio rural. Ainda existe muito preconceito e falta de informação, mas esse dia reforça o trabalho que está sendo realizado pelo movimento sindical, não só nessa data específica”, compartilha.
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