“A ENFOC foi a minha salvação como um homem da terra”, afirma jovem nascido na Reserva Chico Mendes

A formação política trabalhada pela Escola Nacional de Formação da CONTAG (ENFOC) tem contribuído significativamente para o resgate de muitos(as) jovens como sujeitos do campo, da floresta e das águas. E foi assim com o jovem Francisco das Chagas da Silva Araújo, de 28 anos, filho de uma agricultora familiar e de um seringueiro. Nascido na Reserva Chico Mendes e agora agricultor familiar no município de Capixaba/AC, tem orgulho de dizer que é um homem da terra. Mas, nem sempre foi assim.

Francisco chegou a sair do campo para trabalhar de carteira assinada na cidade por duas vezes, trabalhando inclusive em madeireiras. Era um período de conflito consigo mesmo, de perda de identidade como trabalhador rural. “Quando fui para a cidade na primeira vez, retornei logo à propriedade da família e fui selecionado em primeiro lugar para o Curso Técnico em Agroecologia pelo Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera), que cursei nos anos 2012 e 2013. Mesmo com essa experiência, retornei para a cidade buscando oportunidade”.

O jovem relatou que, chegou a fazer o 1º módulo do Curso Estadual de Formação Política da ENFOC em 2014, mas desistiu. Mas, em 2016, quando voltou de fato para o campo, teve uma segunda chance de passar pela formação da Escola. “A ENFOC veio e me resgatou. Tenho uma dívida de gratidão com a Escola de Formação da CONTAG. Eu cheguei a negar os meus pais, de ter vergonha da minha mãe ser uma agricultora familiar e do meu pai ser um seringueiro. Agora não, aonde vou me apresento falando dos meus pais, que sou nascido na Reserva Chico Mendes. Ao trabalhar a temática de Identidade e Sujeito no curso, a ENFOC foi a minha salvação como um homem da terra”, afirma, emocionado, o jovem Francisco.

Quando Francisco voltou de vez para a propriedade da família, os pais já haviam desistido da produção agrícola por falta de apoio na lida da roça. Migraram para a cidade e agora é o filho que tenta resgatar os pais e os irmãos.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Atualmente, Francisco e a esposa produzem mandioca, abacaxi, maracujá, entre outras culturas, além da extração da castanha. Até o ano passado, um dos irmãos ajudava na propriedade, mas agora também foi para a cidade. Então, quando precisa de mão de obra, contrata diarista ou consegue apoio externo em troca de serviço, para dar conta da demanda de produção.

Com o conhecimento adquirido no Curso Técnico em Agroecologia, onde aprendeu técnicas sobre o uso sustentável da floresta, horticultura, apicultura, entre outras, está implementando algumas experiências na sua área e está em processo de transição agroecológica. Além do curso, Francisco disse que também traz novidades que identifica nos encontros que participa pelo movimento sindical, nas visitas pedagógicas da ENFOC, entre outros espaços, a exemplo do cultivo consorciado, de capina seletiva na enxada e na roçadeira, agrofloresta, adubação verde, produção de caldas, entre outras técnicas. Francisco disse, também, que pretende reflorestar uma nascente na sua área que foi bastante desmatada antes da chegada da sua família a essa propriedade. “Ainda uso pesticidas e herbicidas porque estou no processo de transição, mas já reduzi bastante o uso e estou trabalhando para reduzir a zero”, garantiu, justificando que na região do seu assentamento as terras são muito cansadas, devido à degradação praticada anteriormente, e que dá muitas pragas. “Para combater, nem sempre conseguimos fazer com a enxada e adubação verde”, explicou.

Portanto, o jovem agricultor familiar tem grandes sonhos para a sua terra. “Minha intenção é permanecer na propriedade rural, desenvolver a produção, trazer minha família de volta, ajudar a desenvolver a comunidade e expandir o trabalho para outras comunidades”, destacou.

EXPECTATIVAS PARA O 4º FESTIVAL

Francisco é associado ao STTR de Capixaba/AC desde 2014, quando também compôs a chapa para a Diretoria do Sindicato, ficando responsável pela organização da juventude.

Desde que retornou ao meio rural, vem tentando desenvolver esse trabalho com os jovens e as jovens rurais, na luta pela criação da Comissão Municipal e também da Comissão Estadual. Atualmente, está engajado na mobilização e organização da arrecadação de recursos para levar a juventude rural do Acre para o 4º Festival Nacional, nos dias 5 a 7 de maio de 2020, em Brasília. O objetivo é fretar um ônibus do estado. “Também estou ajudando na seleção de jovens, dando prioridade aos que já estão inseridos no movimento sindical, para termos, de fato, jovens que saibam o que realmente vai acontecer em Brasília, levar jovens preparados”, destacou.

Com relação a sua expectativa para o Festival, Francisco adianta: “espero que os 40 jovens que pretendemos levar voltem ao estado com ideias, projetos e com a clareza de que eles têm grande responsabilidade com relação ao movimento, bem como nos ajudem a organizar a juventude em busca de melhorias para todos e todas. Que eles percebam o seguinte: se um jovem quiser sair da zona rural para a cidade, e ele tem o direito, mas que vá com dignidade, que tenha uma preparação para isso, que não vá de qualquer jeito para ser só mais um desempregado na cidade, para fazer número em meio à pobreza. Que eles percebam que as oportunidades não estão só na cidade, que a gente tem uma riqueza na zona rural para explorar, basta ter organização, ter articulação, mobilização, conversa e políticas públicas que atendam às demandas, principalmente com relação à produção, à organização dessa produção e comercialização dos produtos da agricultura familiar para facilitar a permanência dos(as) jovens no meio rural”.

Menu Administrativo